O Olhar Sanatorial do Ser Humano

O Olhar Sanatorial do Ser Humano

O ser humano é essencialmente uma criatura instintiva, tal como todos os demais animais. Os defeitos orgânicos e morais o diferenciam dos outros animais. Somos animais vestidos. Animais traduzidos pelas máscaras que as vestimos diariamente para servir as mais diversas instituições.

Há quem aqui, encorajadamente, já se permita explicações filosóficas para essas primeiras e estranhas proposições.

O ser humano distancia-se, constantemente, quando o instinto e o impulso abandonam os tratados e se movimenta em passos irregulares na direção contrária aos estímulos exteriores naturais.

E aí é que salpicamos inúmeros elementos, nos planos religiosos, políticos, sociológicos etc. -; formadores dos nossos costumes.

É a produção emergencial dos nossos julgamentos. É o que classifico como o veneno sagrado da nossa mentalidade instant.

Um movimento mental estéril diante de um jogo inútil. A doença que se aproxima da morte.

É a mão “forte”do Estado controlando as relações sociais. As relações, todas elas, são disciplinadas pela lei. É assim que tentamos harmonizar as relações humanas e sociais.

As relações foram disciplinadas para inquietar o conflito. O conflito nasce dessa disciplina legislativa.

Nas relações de trabalho, o ser humano não se comporta de forma diferente. O conflito nasce junto com o próprio negócio. Estamos umbilicalmente interligados.

O empreendedor produz a demanda e o emprego. O empregado produz instantaneamente a relação de contrademanda. O empregado é essencialmente um adversário do empregador.

Empreender, hoje, sobretudo no Brasil, se tornou uma arte. Não há confusão entre a cultura do empreendedorismo e a arte de empreender. O Estado incentiva o conflito, criando uma atmosfera de ares nublados.

São valores absolutamente incompatíveis e diametralmente opostos. É quase um crime digno de castigo. Algo tão inquietante quanto demencial, em sentido homeopático que revela a dificuldade do ser humano de aceitar a graduação natural da evolução social.

É por isso que continuamos procurando encontrar o Santo Graal, em épocas diferentes, mas nos mesmos conceitos, buscando mais sabor aos alimentos, a vida e ao vigor dos seres humanos.

O ser humano ainda carece de um tom maior. O ser humano continua se diminuindo e construindo suas diferenças na arte de criar conflitos.

Bem disse nosso amigo colunista: “Quem sabe de mim sou eu”.

Márcio Aguiar é Sócio Fundador do escritório Corbo, Aguiar e Waise Advogados Associados.

19 comentários

  1. O olhar “sanatorial”?

    “Todo o Homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social”.
    Declaração Universal dos Direitos do Homem.

    Quando se fala em empreendorismo podemos voltar nossos olhos e mentes aos séculos XVII e lembrarmos das duas primeiras revoluções industriais ou, ainda, podemos nos remeter ao período militar brasileira. O que tem de comum? A falta de olhar senatorial do ser humano. O capitalismo sempre busca (incessantemente) o lucro – a qualquer custo. Os grandes “empreendedores” buscam matéria prima barata, diminuir o custo da produção e quando isto não basta temos a resposta do que há em comum das duas grandes revoluções industriais e o período militar brasileiro: O ARROCHO SALARIAL. As duas revoluções industriais fizeram que o trabalhador laborasse por mais de 12 horas diárias, não haviam quaisquer direitos senão o trabalho para receber valores que não garantiam a subsistência do trabalhador e sua família (aqui não nos manifestaremos sobre direitos previdenciários). O período militar brasileiro, através do golpe civil-militar de nossas burguesias (lindos empreendedores) e militares buscaram um crescimento econômico através de empréstimos a organismos internacionais e quando isto cessou buscaram cessar a inflação com arrocho. E arrocho de quem cara pálida? Do empregado. No primeiro caso não havia intervenção estatal direta, no segundo era a base da força (daí a importância da democracia com intervenção estatal direta nas relações de trabalho).

    O Princípio da Proteção ao Trabalhador é, sem dúvidas, o princípio mais importante para o Direito do Trabalho. Ele é a própria essência, razão da existência, de nosso ordenamento jurídico trabalhista. Surgiu com a evolução histórica das diretrizes obreiras e sociais, no sentindo de colocar o trabalhador em posição igualitária perante as classes patronais (meu sempre eterno e presente Marx – e aqui só cito ele em homenagem ao autor do texto – chamaria de luta de classes, ou seja, burguesia x proletariado).

    Neste sentido não há de se falar em bom empreendedor (podem existir, mas são poucos, pouquíssimos). O que se busca na realidade é o lucro e daí a necessidade de intervenção forte do estado para que não voltemos ao passado onde a classe trabalhadora era explorada de forma desumana e, onde, de fato, não existia o olhar do estado à classe trabalhadora (seja senatorial ou não).

    • Emanuel: você já estava me deixando entediado. Bom tê-lo de volta. Vou ser um pouco mais rápido aqui. A CAWdialogos é um emprendimento, mas sem fins lucrativos. Aqui empreendemos o debate intelectual. Geramos e forlacemos o movimento constante da mente. A mente em ebulição provoca a necessidade de se buscar conhecimento. O conhecimento está por toda parte, inclusivamente nos livros, também escritos pelos empreendedores. Suponho que sejam bons e alimentem a sua capacidade multidisciplinar. O empreendedor não pode, naturalmente, objetivar o prejuízo. O trabalhador não existe sem o empreendedor. Isso parece extremamente óbvio para nós todos. Um país que não empreende não gera riquezas. Sem riqueza não temos o chamado consumo. O consumo, por sua vez, gera mais postos de trabalho. Façamos o seguinte, agora: vamos acabar com o empreendedor. Isso. Vamos por fim a ideia do empreendedorismo. Vamos reconstruir o anarquismo e eliminar as ficções sociais. Pronto. Agora que todos somos iguais, num mundo diferente, em que ninguém mais vai empreender. Chegamos lá. Convoco o Marx e proponho que ele me entregue uma fórmula para gerar empregos. Uma receita em que apenas exista a classe trabalhadora. Perfeito. Despejamos toda a necessidade dessa classe aonde, exatamente? O que eu e você vamos fazer? Vou ficar aqui esperando Marx responder.

  2. A história nunca é precisa. Uma versão da história conta que a qualidade da vida humana melhorou muito a partir da revolução industrial. O socialismo teve setenta anos para provar que era o melhor sistema, mas fracassou. Isso é básico. Vocês concordam com isso?

  3. De fato não discordo nem concordo. Faço meu papel (empreendedor Marxista). Um certo companheiro Zé pediu-me para polemizar então pensei e foi-me intitulado o título de marxista. Logo, sou o empreendedor Marxista e tenho ciência que minha canoa está muito furada (nada que um boa cola não resolva). Bem, como diria meu amigo Menezes, pois meu papel no Cawdialogos já está desenhado conforme assinalado (e não que acredite piamente em tudo que escrevo – por isso sou advogado), agora, Inês é morta (mas não da forma apresentada por Menezes que trouxe-nos a visão da aristocracia e sim a visão da verdade, de uma disputa de poder dentro de uma família onde, para atingir um determinado objetivo, um rei assassina uma linda mulher, amante de seu filho). Todavia, voltando ao texto, imagine um mundo de empreendedores sem trabalhadores. Acabemos com o trabalhador. Vamos por fim a idéia do trabalho com contraprestação o dinheiro. Sem Bakunin por favor. A classe trabalhadora, por Marx, seria a força motriz da transformação social, o sujeito da revolução socialista, o coveiro do capitalismo, onde o resultado do trabalho seria dividido entre todos em uma sociedade onde não existiria diferença de classes. Onde, de fato e de direito, todos são iguais e não haja uma desigualdade social que se traduzisse em desigualdade racial (Marcio não concorda com isso) como em nossa sociedade. A sociedade idealizada pelo ilustre jurista Thomas More em Utopia (livro que recomendo aos frequentadores deste site). Uma sociedade com perfeita distribuição de renda, igualdade, liberdade de expressão, sem crime, sem corrupção, sem violência, sem miséria. E antes que acorde me vem o saudoso hino da mocidade: SONHAR, NÃO CUSTA NADA…. saudações do EMANUEL – pseudo-marxista coração valente.

    • Com toda sinceridade, Emanuel, é muito bom relê-lo!
      A liberdade do seu pensamento é apequenada debaixo do rótulo marxista! A cada comentário, você cita dois ou três autores novos, de geração anterior ou posterior a Marx, poucos deles efetivamente marxistas.
      Arranquemos esse esteriótipo! Preferimos o fremir do teclado sob os dedos contagiantes e febris, comandados pela verve emanuelina, livre e idealista, com apoio, apenas apoio, nesse e noutro pensador!

    • O sistema socialista, Emanuel, proíbe uma liberdade fundamental que é a escolha da própria carreira. Nesse aspecto, a sua boa advocacia estaria comprometida. Marx sempre defendeu uma única autoridade econômica, responsável por decidir pelos assuntos afetos a produção. O homem, no socialismo marxista, é um mero soldado. E soldados apenas cumprem ordens. Marx, Lênis e todos os estadistas que defendiam o socialismo como um regime responsável pela organização de todo o sistema de produção, numa espécie de militarismo.

      Os socialistas, ao longo de mais de um século, sempre afirmaram que os males do mundo eram derivados da existência de mercados e os respectivos preços. Propunha-se, então, um organismo sem preços e mercados. Já até pensei lá na padaria do seu pai. Mas eles próprios, os socialistas de carteirinha, em dado momento concluíram a besteira a que defendiam. Eis uma conclusão anônima advinda posteriormente de um teórico socialista: ”não aboliremos o mercado por completo; faremos de conta que existe um mercado, como as crianças, quando brincam de escolinha.”

      A questão, caro Emanuel, é que para além, da simplicidade teórica de Marx e dos demais socialistas evasivos, numa epilepsia mental súbita, é a de que as crianças que apenas brincam de escolinha não aprendem nada.

  4. O que penso é que para sobrevivermos precisamos de infinitas parcerias. Parcerias saudáveis. Nada somos uns sem os outros. Empregados sem empreendedores nem empreendedores sem empregados. Nada somos sem nossos clientes. Deixemos Marx e os revolucionários descansaram. O mundo mudou. Precisamos mudar também.

    • Andressa: de fato, o mundo mudou. O mundo vai continuar mudando. Nós mudamos e também continuaremos sendo diferentes a cada dia. Estamos todos buscando o mundo ideal. Marx criou uma teoria simplicista que não conseguia sustentar. Se perguntarmos para quem vive na Russia ou em Cuba e para quem vive nos Estados Unidos: quem vive em melhores condições? Quem tem um melhor padrão de vida? A resposta esta visualmente óbvia, explicita ao olhar, já que a liberdade não existe nos países socialistas, pois as ditaduras são duras e severas. Não conheço uma democracia socialista. A relação com a sociedade é a mesma do senhor e do escravo, quando, entretanto, um governo de ditadura deveria se dissolver e entregar seu poder aos operários; – mas em contradição procura manter-se indefinidamente no poder.

  5. Caro Márcio, me acostumei com seus artigos quase diários; sentia falta do seu pensamento que atravessa o direito e o posiciona no meio, e não no fim das discussões! Sua escrita é real, Márcio; retrata uma estrutura social complexa, mas vazia de buscas importantes, que preencham a alma com “o sabor, a vida e o vigor” de se perseguir um ideal.
    Certamente, nossa zona de conforto está nos debates de direito, sociologia, política, filosofia, economia, antropologia… O texto aborda todas essas áreas do conhecimento, mas não se conforma com nenhuma delas. Propõe que “o ser humano ainda carece de um tom maior”. Talvez se refira ao universo da sensibilidade, da emoção, do encanto, sem preterir o pensamento, a razão, o espanto com o mundo que constuímos.

    • É verdade, caro D. Menezes. O que existe e sobrevive é a liberdade de pensamento. Somos livres quando podemos pensar. Não há Marx que vigie e nos impeça de pensar. Esse é o universo aonde trafegamos sozinhos ou na companhia das nossas inserções espontâneas. O desfecho do pensamento é um ato deliberado de extrema vaidade intelectual. Não há um fim para o pensamento.

  6. Prezado Fernando, o manifesto escrito por Marx termina assim: “Trabalhadores de todos os países, uni-vos!” (seria isso uma simples frase de efeito?). O socialismo não poderia ficar restrito a um país ou região. O capitalismo reproduz-se em todas as partes e estabelece uma divisão de trabalho (mudando a forma de produção mundial). Marx imaginava que a revolução aconteceria em países mais avançados e seria um efeito dominó. Sua previsão estava equivocada (até os neomarxistas acreditam nisso). Para Marx ou o mundo é socialista ou não há socialismo.
    Por que não deu certo Fernando? Ou deu?
    Eu te pergunto: o que era a Russia antes da revolução e o que era após a revolução? O que é dar certo? É ser europeu ou estadunidense explorando o mundo para que seu capitalismo dê certo? O capitalismo deu certo? O que são as crises do capitalismo? A URSS, além de enfrentar a superação do atraso econômico do país tinha que desviar dinheiro para a indústria bélica (tendo menos dinheiro para implementação do projeto socialista). É preciso construir fábricas, dizer o que e como produzir e treinar mão-de-obra qualificada para esse trabalho e aí entra um grande empreendedor: O ESTADO. Com seu olhar senatorial. Mesmo contra tudo e contra todos. O capital “resolveu” partir o bolo, ao menos dar um pedacinho à seus trabalhadores na Europa. Os números mostram isso. Por que será? Por que são bons empreendedores com olhar senatorial ao trabalhador?
    Houve uma revolução econômica na URSS, China e Cuba. O fato dos meios de produção não pertencerem mais a poucos indivíduos e famílias, fez com que o montante de recursos disponíveis para a população em geral fosse bem maior.
    O CRESCIMENTO ECONÔMICO DOS PAÍSES DITOS SOCIALISTAS FOI SURPREENDENTE, ESPECIALMENTE NOS PRIMEIROS ANOS.
    Fernando, é importante frisar, que apesar de gastarem a maior parte da receita com exércitos e armamentos, conseguiram dar um padrão de vida para a população que não existia antes da revolução. E mais ainda que todos eles praticamente acabaram com o analfabetismo, a miséria e o desemprego.
    Vou te dar outra dica: Vai conhecer Cuba. Tem que conhecer de coração, perguntar. Eu fiquei assustado pois achei que era muita pobreza. Pude ver os dois lados, assistir um discurso do companheiro Fidel (quase 4 horas) e entender que toda a população passou a ter acesso à moradia, educação e saúde.
    O progresso econômico dentro das economias socialistas foi enorme se comparado ao que existia, todavia, são ilhotas socialistas em mares capitalistas.

    Mas, por que não deu certo (claro, segundo Fernando)?. Diversas são as explicações e a mais simples seja que não era o momento histórico adequado para uma revolução socialista mundial.

    Hoje, com a globalização da economia, os países são mais dependentes uns dos outros, o que tornaria mais fácil de acontecer o efeito dominó descrito anteriormente.

    Se a revolução houvesse sido mais abrangente, talvez estivéssemos hoje gozando dos benefícios de viver numa sociedade onde cada indivíduo pudesse desenvolver o seu trabalho de acordo com os seus talentos, onde os elementos básicos para a sobrevivência, como moradia, saúde, alimentação e educação fossem garantidos a todos e onde o avanço de cada um representasse o progresso de toda a sociedade.

    Emanuel Gomes – empreendedor pseudo-marxista coração valente que pouco acredita em suas palavras mas acha que está aprimorando o seu discurso marxista-leninista-stalinista conforme requereu-me o companheiro Zé, por isso Menezes, não posso arrancar a carcaça Marxista, pois tenho que trazer a discussão, trazer a “outra” verdade. Fica a dica Fernando.

  7. Um mundo de igualdade nunca vai existir. Uns vão mais longe e outros não vão a lugar nenhum. Tem o Neymar e tem o Joãozinho, da Tupinense. Não tem jeito. Andressa tem razão. O Neymar só existe por causa do Joãozinho. Por isso não viajo na utopia das ideologias de extrema esquerda, que prega o igualitarismo, puro exercício de busca do Poder.

  8. Perfeito, Fernando! Não há como conceber a igualdade absoluta. Basta que existam mais novos e mais velhos, para não elencar os inúmeros – ou infinitos? – fatores de diferenciação…

  9. Cuba é uma miséria. A miséria de Cuba é atribuída ao boicote americano, pelos amantes do sistema ditatorial. Não consigo, Emanuel, entender o sistema. Não consigo compreender como alguém, como Fidel, pode se tornar dono de um país. Por quem um homem assim pode ser adorado? O cara tem mais de duas mil mortes nas costas. Um genocida que fuzilava quem apenas pensava diferente, sem contraditório, sem nada. Como, Emanuel, visitar Cuba? Pra que? Como viver sem liberdade de ir e vir? Como viver sem liberdade pra ganhar seu próprio dinheiro, da maneira que lhe convier e na quantidade que quiser? Definitivamente, não concebo. Não podia e não pode dar certo. Viver como rato de laboratório, comandado por um homem, a exemplo da Coréia do Norte…Como conceber isso?

    • Cuba não é só uma miséria. Viver na pobreza não é o maior problema. Cuba é o inferno na terra. O país é um lixo. As pessoas não têm direitos. As pessoas não têm livre acesso a informação. E você, Emanuel, que gosta tanto da informação, dando asas ao silêncio? E é por isso que muitos preferem colocar suas próprias vidas em risco a viver em Cuba.

      • Não conheço Cuba, mas um dado interessante foi noticiado com relação à deserção do programa “Mais Médicos”, em junho de 2014, de dois profissionais cubanos. Eles não se conformaram com o fato de o governo brasileiro transferir à Organização Panamericana de Saúde – OPAS, com a qual foi firmado o convênio, a importância de 10.400 reais, que é repassada ao governo de Cuba, que, por sua vez, paga a cada médico 1.245 dólares, aproximadamente 3.000 reais.
        A médica Okanis Borrego e seu colega Raul Vargas anunciaram a saída do programa, mas disseram que pretendem ficar no Brasil…

        • Os outros quase sete mil reais vão para a produção de charutos especiais que Fidel consume. Para os deleites da sua confortável mansão. Aqueles vinhos que nem nós, os capitalistas democrata socialistas, já experimentamos. E Fidel sempre gostou, como o nosso ex-presidente, Lula, de boa comida.

Deixar um resposta