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Ou os absolutamente incapazes do art. 5º, inciso II, do Código Civil de '16

No último domingo conversava com meu irmão a respeito dos filmes da série Matrix e tentávamos conciliar interpretações. A existência de uma realidade virtual criada por máquinas, onde supostamente viveríamos, mas, a rigor, seríamos explorados, tendo nossa energia usurpada para uma finalidade desconhecida… Lançado há mais de 15 anos, o primeiro dos longas ainda deflagra discussões abertas e crava de dúvidas seus mais fiéis admiradores.

Meu irmão e eu estávamos distantes de um acordo, como necessariamente tiveram que alcançar os irmãos Wachowski, roteiristas e diretores da trilogia. Mas conseguíamos fazer do questionamento de um a incerteza dos dois. Tenho poucas recordações da infância, mas me lembro sem muito esforço de que, ainda pequenos, buscávamos ardentemente uma explicação globalizante, que respondesse a todos os dilemas humanos. Uma teoria de tudo ― sem querer confundir os filmes. Por isso mesmo, transitamos entre tantas religiões e tomamos rumos sob uma espécie de agulhadas na razão.

À medida que ele falava sobre uma representação do mundo das ideias de Platão, como a autêntica realidade dos homens, que estaria fora do grande sistema operacional Matrix, em que transitavam homens e mulheres em sua frenética human race, eu contra-argumentava com outra leitura do filme. Via em Matrix o mundo das ilusões de Sidartha, o Buda, no qual todos deveríamos nos precaver das ciladas que poderiam nos prender ao que era somente transitório.

De uma forma ou de outra não apontávamos nenhum erro no que o outro dizia. De certa maneira nos completávamos. Nosso pai, a quem fomos visitar e em torno de quem começamos a conversar, sorrateiramente nos deixou a sós a falar, dado o fervor com que queríamos nos fazer entender e convencer, como velhas crianças.

Smith, então, certamente seria um vírus, indesejado por hardwares e softwares. Nesse ponto não houve debate. Meu irmão dominava o assunto e se referia à humanidade como um conjunto de aplicativos a serviço dos computadores. Tive chance, porém, de pedir um pouco mais de lógica e clareza, já que a fusão de hard e softwares, no dia-a-dia, atende ao ser humano. E na metáfora de Matrix, a quem serviria? Pausa pra pensar… “Ao Arquiteto” ― respondemos juntos, em uníssono, com um detalhe: ele perguntou e eu afirmei.

Sim, ao Arquiteto. Ele representaria Deus na saga cyberpunk. Marlos ― embora a bem poucos possa interessar, já é hora de dar um nome ao meu irmão, tão esquisito quanto o meu. Talvez meus pais estivessem com a cabeça em Matrix quando decidiram registrar nossos nascimentos ― Marlos não se conformava com um deus ou o Deus na história, pois o homem, quando utiliza seu PC, não está dentro do computador. Mas quem disse que ele entrou? Seria apenas a sua imagem ou sua personificação, como ocorre quando nos comunicamos e nos vemos pelo monitor. Agora era eu quem movia a rainha e dava o xeque-mate. “E quanto ao Neo?” ― se ele me perguntou é porque eu já andava vencendo a queda de braço. “Neo é a alegoria do Salvador” ― não titubeei, mas essa conclusão advinha das muitas vezes que assisti Matrix Revolutions, o último dos filmes. Após uma hecatombe final, quando Neo e as infinitas multiplicações de Smith (na imagem que encabeça este post) parecem provocar uma fissura nuclear, as máquinas erguem o corpo vencido do protagonista e a cena seguinte mostra o herói de braços abertos, envolto num halo luminoso. Um pouco adiante há um encontro entre o Arquiteto e o(a) Oráculo, tendo ao fundo a plácida imagem do raiar do sol. Tinha início uma nova era e eles conversam sobre o quanto duraria a paz após o sacrifício de Neo. Nesse momento o silêncio se fez mais duradouro.

No auge da nossa insanidade e das disputas filosóficas, concluímos, sem nos olharmos, que só desejamos a paz quando não a temos. Toda aquela luta, perseguição, tiroteio e desvio de balas de Matrix tinha na paz a sua grande finalidade.

Sem trocar uma palavra, levantamos na mesma fração de segundo ― o relógio da cozinha marcava 18:47 horas; havíamos imergido naquela discussão por exatos 51 minutos, desde as 17:56 horas ― e fomos bater papo com o nosso pai, ainda convalescente de uma cirurgia e de uma infecção urinária. Como epílogo daquele fim de tarde e início de noite, nossa loucura não nos impediu de amar.

O ser humano é essencialmente uma criatura instintiva, tal como todos os demais animais. Os defeitos orgânicos e morais o diferenciam dos outros animais. Somos animais vestidos. Animais traduzidos pelas máscaras que as vestimos diariamente para servir as mais diversas instituições.

Há quem aqui, encorajadamente, já se permita explicações filosóficas para essas primeiras e estranhas proposições.

O ser humano distancia-se, constantemente, quando o instinto e o impulso abandonam os tratados e se movimenta em passos irregulares na direção contrária aos estímulos exteriores naturais.

E aí é que salpicamos inúmeros elementos, nos planos religiosos, políticos, sociológicos etc. -; formadores dos nossos costumes.

É a produção emergencial dos nossos julgamentos. É o que classifico como o veneno sagrado da nossa mentalidade instant.

Um movimento mental estéril diante de um jogo inútil. A doença que se aproxima da morte.

É a mão “forte”do Estado controlando as relações sociais. As relações, todas elas, são disciplinadas pela lei. É assim que tentamos harmonizar as relações humanas e sociais.

As relações foram disciplinadas para inquietar o conflito. O conflito nasce dessa disciplina legislativa.

Nas relações de trabalho, o ser humano não se comporta de forma diferente. O conflito nasce junto com o próprio negócio. Estamos umbilicalmente interligados.

O empreendedor produz a demanda e o emprego. O empregado produz instantaneamente a relação de contrademanda. O empregado é essencialmente um adversário do empregador.

Empreender, hoje, sobretudo no Brasil, se tornou uma arte. Não há confusão entre a cultura do empreendedorismo e a arte de empreender. O Estado incentiva o conflito, criando uma atmosfera de ares nublados.

São valores absolutamente incompatíveis e diametralmente opostos. É quase um crime digno de castigo. Algo tão inquietante quanto demencial, em sentido homeopático que revela a dificuldade do ser humano de aceitar a graduação natural da evolução social.

É por isso que continuamos procurando encontrar o Santo Graal, em épocas diferentes, mas nos mesmos conceitos, buscando mais sabor aos alimentos, a vida e ao vigor dos seres humanos.

O ser humano ainda carece de um tom maior. O ser humano continua se diminuindo e construindo suas diferenças na arte de criar conflitos.

Bem disse nosso amigo colunista: “Quem sabe de mim sou eu”.

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