Pense no amanhã
Toda ação humana provoca uma reação. Nem sempre igual e contrária, pois não se cuida de lei física. As reações das espécies animais são imprevisíveis. O “bicho-homem” continua sua plena domesticação. Se o exame das ocorrências propiciar qualquer diagnóstico, muitos concluirão que Hobbes tinha razão: o homem é o lobo do homem.
Comportamentos lastimáveis encontram-se em todos os espaços e em todos os estamentos. A relação do ser humano consigo mesma é conflitiva. Cresce o número dos deprimidos, dos desalentados, dos desesperançados e desiludidos. Mal-humorados, são incapazes de uma palavra amável. Tropeçam em si mesmos e chutam o próximo. Literalmente. Basta verificar como são as aglomerações na metrópole: não apenas para as legiões que se utilizam dos coletivos, mas às portas dos estádios, nas filas dos grandes eventos e em qualquer recinto em que haja afluxo de pessoas.
Está falhando a educação doméstica, o papel da escola que se limita a fornecer informações, mas desistiu do treino da cidadania, a Igreja, que não consegue mais atrair a juventude como há algumas décadas. A sociedade inteira deve repensar suas estratégias de formação das futuras gerações. Mas há uma categoria que poderia encetar uma revolução nos costumes sem alarde, sem cataclismos, sem estardalhaço. É o conjunto das profissões jurídicas.
O Brasil tem mais faculdades de direito do que a soma de todas as outras faculdades existentes no restante do planeta. As profissões jurídicas absorvem seu conteúdo de uma esfera muito mais ampla, denominada ética. E a ética é a ciência do comportamento moral do homem em sociedade. Começa com a polidez que, desrespeitada, leva a infrações disciplinares mais graves. Depois, infrações administrativas. Em seguida, ilícitos cíveis e, por último – e mais grave – delitos. Crimes.
Esse o caminho trilhado por uma juventude sem disciplina, sem hierarquia, tudo tendo início na falta da boa educação de berço. No momento em que dermos à criança noções de dignidade humana, consciência para olhar para o outro, cuidar do outro, interessar-se pelo outro, como um igual, não como um estranho, talvez tenhamos perspectiva de um mundo melhor.
Caro Dr. Renato, gostei muito do texto e do tema! Não há lição ou noção que se possa dar às crianças se não pelo exemplo. Nós, ex-crianças que somos, reflexos dos adultos que nos guiaram na infância, precisamos pensar muito bem no adulto que nos tornamos para que sejamos capazes de influenciar uma criança a ser um bom adulto amanhã. Não é possível querer que uma criança seja atenta ao outro se, ao ficarmos ao seu lado, não desgrudamos do celular. Não é possível ensinar sobre sobre dignidade humana se, ao ver um mendigo na rua, passamos depressa para a criança nem notar. Não há como ensinar sobre consciência para olhar para o outro se, fechamos o vidro quando um pedinte chega perto do carro. Mas fazemos isso…sem querer, às vezes. Outras querendo mesmo. É a força do hábito. Mas o hábito tem poder e nós podemos mudar de hábitos. Refletir sobre isso já é um bom começo.