Pijama e Gravata

Pijama e Gravata

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O Tribunal Superior do Trabalho adotou o home office.

Dez Tribunais do País, além do TST, colocaram em prática esse projeto-piloto de trabalho em casa.

Antes, 30% dos servidores podiam optar por esse sistema. Agora, 50% deles foram autorizados a adotar a prática do trabalho “doméstico”.

O home office no TST é facultativo. A decisão sobre a sua conveniência está sob critérios do gestor de cada setor. A concessão do “benefício” está restrita aos cargos em que é possível medir objetivamente o desempenho do servidor.

A comunicação dos funcionários que trabalham à distância com os funcionários que trabalham no Tribunal se dá, obviamente, através de telefone, internet e visitas determinadas ao Tribunal.

O programa também é aberto aos Desembargadores.

A medida representa redução de despesas e melhor produtividade dos servidores.

Segundo o Tribunal, a produtividade do trabalho à distância é em média 20% maior do que o presencial.

Além de ter metas a cumprir, os servidores não podem sair do Distrito Federal em horário de expediente, sem autorização.

Não há nenhuma dúvida de que a adoção do home office em escala traria uma enorme economia a quase todos os setores da atividade produtiva do País.

A sociedade ainda não percebeu que não mais se justificam, por conta da tecnologia de hoje, os picos de deslocamento das massas de trabalhadores a entupir as cidades nas primeiras horas do dia e ao final de cada tarde.

Evidentíssimos são os benefícios que uma cidade como São Paulo, por exemplo, com plena capacidade financeira e tecnológica para adotar a prática, teria se mergulhasse de corpo e alma nesse projeto.

Mas, é muito compreensível, porém, a timidez que o risco jurídico da prática pode provocar na iniciativa privada. É a Justiça do Trabalho que define o regular e o irregular. E um funcionário irregular, trabalhando em casa, pode representar um enorme prejuízo à empresa.

Perdoado o paradoxo, aplausos para a Justiça do Trabalho, pela iniciativa de adotar o home office para seus servidores.

Fernando Corbo é advogado do escritório Corbo, Aguiar e Waise Advogados Associados.

27 comentários

  1. Fernando: estaríamos, muito provavelmente, diante de um mundo ideal. Há muito, a propósito, que se discute por alguns cientistas, os benefícios da carga horária menor como fórmula eficaz no aumento da produtividade. Não há dúvidas, portanto, de que o “home office” pode trazer os mesmos efeitos positivos. A questão é: o empregador assumirá esse risco? Quais seriam as garantias jurídicas se, amanhã, um empregado, mal intencionado, reinvindicar horas extradordinárias ou eventual trabalho noturno?

    • Concordo, Marcio. O risco jurídico é muito grande. Mas a Justiça do Trabalho pode facilitar a vida das empresas. E as empresas podem investir melhor nas formas de controle.

  2. Home Office (outra visão)
    De fato, tenho que concordar, em parte, com Fernando e Marcio. Mas, existe outro lado. Não há garantia, não só para o empregador, mas como para o empregado. Seria maravilhoso? No trabalho em casa público e privado se embaralham, não há existe definição do que é de fato trabalho e do que é o descanso. A jornada pode se estender tanto por culpa do trabalhador tanto por culpa do empregador. O empregado estará sempre disponível e poderá ser incomodado à todo momento por questão de trabalho pois não está em casa, está também no escritório. O tempo (neste somente Norbert Elias para me salvar – adoráveis palavras) perderá sua noção desmoronando a vida privada? Seria uma precarização permitida pela tecnologia? Seria algo para diminuir o custo do capital (custo, custo, custo, sempre ele!!!!, ah Marx, segundo volume!!!!)? O que é tendência poderá virar nossa tragédia pois ainda sou capaz de entender o lado positivo do trabalho à distância (principalmente ao trabalhador que adquire grande “capital cultural” – neste momento me Bourdieu à cabeça) e ter controle sobre o próprio tempo, todavia, existe outro lado, qual seja, a individualização, o isolamento, o fim do trabalho coletivo, a quebra dos laços sociais. Adoro ir ao escritório e falar com o Zé, conversar com o Fernando, ver o Marcio, o Wilson, ver o menino do Rafael, ver se o Leivas perdeu mais cabelo, dar um longo beijo e abraço em todas as mulheres que são minhas amigas (poderia citar aqui em Niterói mas me alongaria muito). É, o custo é muito alto, vamos trabalhar.

    • Emanuel: adoro vê-lo por aqui. A suas posições, finas ou grossas, Marxistas ou keynesistas, quase nunca vistas nessa última indicação, sempre trazem extrema riqueza intelectual para os nossos debates. A defesa do “home office”, note, partiu da própria classe trabalhadora. Também surgiu através de estudos científicos dentro de países capitalistas. A ciência parte justamente do bem estar social. Há, é um fato, dentro das corporações laborais, inúmeros conflitos e pouco convívio social. O laços sociais prazerosos, via de regra, estão bem distantes dos ambientes corporativos. A própria concorrência interna, como elemento de produtividade, já é um verdadeiro paradoxo para que brotem as sementes dessa mundo de Alice no país das maravilhas. E a Justiça do Trabalho, como um toque sofistica e contemporâneo de socialismo, rendeu-se as benefícios do capitalismo. Talvez, suponho, como produto da sustentabilidade. Apareça, Emanuel. Continuaremos por aqui.

  3. Sou um contumaz defensor do home office.
    A flexibilidade do horário e a proximidade das coisas simples que contornam a nossa vida e emolduram os nossos dias da mais singela beleza, como os folguedos das crianças, os cuidados da companheira, o conforto da família, a comida caseira, a visita dos pássaros, o verde da horta doméstica, a harmonia do lar…
    E nada disso impede que nos desprendamos de casa para atividades presenciais e para cultivar os valores muito bem enaltecidos pelo Emanuel.
    A conjugação entre trabalho e amor, matéria e espiritualidade! O mundo ideal!

  4. O ponto de vista do Emanuel é sem dúvidas, algo a ser refletido.
    As relações interpessoais, estão ficando de lado cada vez mais. Uma consequência da internet, redes sociais, globalização … Um mal necessário !
    Acho a ideia do Home Office, super interessante, principalmente pela qualidade de vida das pessoas que trabalham nas grandes metrópoles, e perdem a maior parte do seu dia, no trânsito.
    Mas, é preciso ainda mais disciplina e foco para os trabalhadores adeptos ao projeto.

  5. A produtividade é o melhor caminho para que seja avaliada a performance do profissional. Acabou-se aquela velha máxima de que a presença física do colaborador demonstre efetivamente que está produzindo. É lógico que a medição da produtividade deve ser feita com muito rigor e fiscalização. Uma detalhe interessante desse comentário é a economia do translado nos grandes centros urbanos. Aplausos.

  6. Trabalhar com produtividade e não com aparência de produtividade. A presença in office não significa necessariamente que os resultados serão alcançados. Boa saída. Porém, implementar o home office não é para qualquer um. É imprescindível ter muita capacidade de gestão, realizar medições regulares, olhar para a demanda e fazê-la seguir de forma organizada. O controle é essencial. O que interessa é a entrega e não o pijama ou a gravata do entregador.

  7. Fernando, conheço algumas pessoas que trabalham em home office e que estão gostando muito. Para mudanças boas a gente se acostuma rapidamente. E, neste contexto, acho que o home office tem muito mais fatores positivos do que negativos.

  8. Concordo plenamente, Fernando Corbo. É questão de cultura! Excelente tema para o debate, inclusive debatido, exaustivamente, em cursos de gestões, porém, sem nenhuma conclusão. Três perguntas são essenciais para falar de home office: A Produtividade pode vir de casa? Os trabalhadores possuem maturidade para trabalhar de casa? Home Office vilão ou aliado? Fato é, que em meios a diversos debates sobre a eficácia do Home Office, estudos apontam que o número de adoção a essa prática cresce rapidamente. Uma recente pesquisa do IBOPE, informa que somente em São Paulo, 1,5 milhão de pessoas trabalham em casa. Segundo os dados do censo de 2010, mais de 30 milhões de brasileiros aderiram a essa comodidade. Não há dúvidas que o home office é uma forte tendência do mundo moderno. O home office tem seus prós e contra.

    • Perfeito, Diego.
      Acho que o caminho do home office é um caminho sem volta. É um processo que se desenha lento, mas se desenha. A economia é evidente. A tecnologia permite tranquilamente uma boa gestão desse desse processo.

      • É isso. Mas pode não ser bom para o ser humano. Um bom livro onde se discute o turbilhão da vida moderna, da modernidade é “Tudo que é sólido desmancha no ar” de Marshall Berman… Fica a dica. Para o desespero do Marcio quem falou isso foi Marx (kkkkk). A escola keynesiana caiu (desmoronou com o petróleo), a moda é Gramsci que releu Marx. Mas podemos tirar lições de Nobert Elias (Tempo), Bourdieu (capital cultural acumulado – aliás, só quem tem isso vai trabalhar e home office) e poderíamos nos aprofundar em Strauss (como sou fã do estruturalismo). Mas, no fim, acho, como Fernando, que não haverá volta, é isso, mas pode ser discutido, debatido, e que espaço maravilhoso criado para ideias (deixam até que eu exponha as minhas). Marcio, não sou marxista, o pensamento é de esquerda (junta tudo que pode dar um bom caldo). É isso, agora Keynes é só para capitalista que acredita muito no sistema e isso nem Max Weber. Tenho uma reclamação, não consigo ler o que escrevi acima pois o quadradinho é pequeno (mas estou me divertindo).

        • Deixo brevemente de lado o tema do post, para repetir em outro contexto o que já expus acima: que delícia, Emanuel!
          É o CAW Diálogos, com o seu espaço em expansão para abrigar todas as opiniões!
          É polêmica; é CAW Diálogos! Não consigo parar de repetir seu bordão, Márcio!

        • Tá vendo, Emanuel. Esse espaço deixa até você expor as suas opiniões (kkkkkk). Mas, não foi só a escola Keynesiana que desmoronou (rs – provoquei – não morda a isca, por favor. Jurei que não ia provocar, mas não agüentei. Kkkkk).

          • Esse Fernando não vale o chão que pisa (o kkkkk é meu, não pode ser usado, kkkk. Viu como sou democrático?). Pois é, adotei uma linha de escrita não formal, meio que whatszapiana, boa, por que dá leveza. Estou tentando me adaptar ao espaço pois não dá para ler o que se escreve acima (assim é até melhor pois não vou ler, nem corrigi o que escrevi, e vamos que vamos). Marcio, de certa forma não há como se aplicar Marx ao modernismo. Marx foi revisto mas está mais vivo que nunca principalmente quando falamos em luta de classes e luta da classe trabalhadora (veja o exemplo dos garis do RJ conseguindo através de uma luta ter um salário digno). De certa forma venho trazer uma visão mais humana, menos empresarial. No caso em tela começou-se a discussão do home office pelo prisma empresarial, ou seja, custo, justiça do trabalho, garantias, etc… Abordei um prisma mais humano, ou seja, será bom para o trabalhador, será bom para o ser humano. Eu acho que não. Precisamos de contato (nem que seja para uma advogada falar mal do cabelo da outra, ou eu poder falar que o Leivas tinha cabelo um dia, verdade, quando o conheci ainda tinha uma vasta cabeleira – deves levar em conta que sou advogado e estou na defesa de meu amigo Leivas) e com o home-office isso não existirá. Aliás, pode-se abordar outro aspecto: O capitalismo para se desenvolver no RJ teve uma certa dificuldade pois ninguém queria trabalhar (vai ali pega um peixe, planta um tomate, vai passear), o home office pode desenvolver isso (kkkkkk). Veja o exemplo da Grécia, o Mac Escravo não conseguiu manter uma loja aberta lá e o povo tá cagando pra divida contraída. Muda-se o governo e vamos pescar falaria um bom Grego.
            Na essência sei que você e Fernando se preocupariam com a pessoa (se preocupam com o funcionário) mas na prática o sistema é cruel com muita gente e existem muitos outros empresários que abusam. Conheço advogado que não trabalha menos de 12 horas por dia e é assediado o tempo todo sendo certo que sei que vocês concordam comigo que isso é um absurdo. É a busca do lucro a qualquer preço (e o preço pode ser o lombo do trabalhador). Conheço um engenheiro que trabalha em casa (para uma firma chinesa) e está pirando – infelizmente, pois não tem dia e hora de trabalho, ou seja 24 horas por dia. Isso terá que ser muito bem regulamentado para que não haja falha por nenhuma das partes. Entendo, inclusive, como já sustentando pela CUT e pela CGT que o horário do trabalho de home office deve ser diminuído (assim os marxistas vão lutando pela carga horária de 30 horas de trabalho como é na França – o bando de formiguinhas chatas). Abraços.

          • Emanuel: por que você não escreve um artigo? O que, a propósito, é CUT? Luta de classes em pleno século XXI? No way. Vivemos numa sociedade disciplinada. Nunca vi um país com tantas leis. Salvo engano, temos a terceira maior Constituição do mundo. Existem problemas institucionais graves, Emanuel. Um país acéfalo de mentes pensantes e formadoras de opinião. As elites supostamente intelectuais se escondem nos confortáveis apartamentos de luxo na Europa. Somos um povo inerte e omisso, conformado com tudo de absurdo que aqui acontece. Não precisamos de um nefasto e político sindicato de classe que acende uma vela para Deus e outra para o diabo. Os direitos estão aí, mas não são exercidos. Os nossos legisladores são tendenciosos. O capitalismo é uma realidade. O socialismo nunca funcionou em lugar nenhum no mundo. Todos os países que ainda adotam esse regime estão morrendo de fome. O próprio povo prefere arriscar a vida a viver sem ela. O nosso problema começa na descentralização geopolítica. Um governo para vários governos que servem ao mesmo governo. Ideologias partidárias sentadas na mesma mesa e dividindo o mesmo palanque eleitoral. A questão, então, Emanuel, não está numa disputa de classes. Há uma enorme ausência de consciência política. Um povo que não tem educação e não procura por ela. O cidadão, pobre, menos favorecido socialmente, quando quer, vai a luta e vence. As oportunidades estão aí. E eu diria, para finalizar, que os que vivem abaixo da linha de pobreza, que não são poucos, em condições escravas, não têm a tutela do Estado. A MPT não aparece nessas horas. Está preocupado com classes organizadas e bem posicionadas dentro da economia nacional.

        • Emanuel: você é mais do que bem vindo nesse nosso prazeroso e divertido espaço de debates, troca de ideias, opiniões e discussões. Você vem sempre carregado de boa conversa. O estruturalismo é um pensamento filosófico que passeia por muitos territórios humanistas e sociais. Não me atrevo a queimar minha mente com tamanha erudição. Lévi-Strauss também cozinha um pouco meus pensamentos que mais se aproximam da neurociência. O problema de Marx, para mim, era a sua completa incompetência para comprovar e defender suas próprias teorias. Aliás, eu até o desafiaria a me apresentar algo coerente dele. Acho que se juntarmos Gramsci, os outros dois, que confessadamente não conheço, com uma pequena pitada de Marx, com a esquerda moderna, tombando para todos os lados,como o pêndulo de um relógio cuco, poderemos ressuscitar o Hugo Chaves. Quanto ao tamanho do quadrinho, diga-me o que você precisa, para que possamos adequar as suas necessidades. E vamos nos divertindo.

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